Nos velhos tempos (antes da atual democracia formal inaugurada no Brasil em 1988) ser anti-comunista não significava apenas assumir uma posição contrária aos totalitarismos estalinistas, soviético-revisionistas ou maoístas, mas era uma postura intrinsecamente vinculada ao pior conservadorismo elitista, colonialista e autoritário.
O anti-comunista era aquele sujeito para o qual o mundo deveria estar estruturado na base da hierarquia moralista e patriarcal mais tradicional e reacionária possível. Seu pensamento era a típica defesa da pretensa racionalidade natural e ortodoxa da escravidão assalariada (o capitalismo) e da necessidade e legitimidade absoluta da existência de patrões, chefes, pais todo-poderosos, autoridades severas e incontestáveis a que cabiam tutelar a humanidade “pecadora”, corrompida, irracional e “sem princípios”. O anti-comunista típico, quando não assumia escancaradamente a defesa dos privilégios da classe burguesa e do imperialismo, era, portanto, um direitoso que batia na “devassidão vermelha”, apelando para a ladainha chorosa e severa dos valores da família patriarcal e cristã!
Hoje em dia, porém, ser anti-petista não implica, nem um pouco, em detestar e censurar descabeladamente o socialismo, a sociedade sem classes e a liberdade igualitária entre as criaturas humanas. Ainda que alguns adversários ideológicos legítimos do PT babem de fúria contra um partido que ainda supõem legítimo herdeiro da tradição comunista (e a própria turma do Lula continue a se apresentar como defensora do socialismo e da “possibilidade de um outro mundo” diferente do capitalismo), a pura verdade é que ser anti-petista é ser anti-fascista e a favor da dignidade humana, da vida e da saúde da grande maioria dos brasileiros!
Ser anti-petista é ser contrário a um grupo político que chegou ao poder nas asas da esperança popular, vendendo a ingênua e casta moralidade política, para depois, não apenas enlamear os alvíssimos e infantis lençóis da honestidade pública, na primeira oportunidade (instituindo os mensalões para comprar o voto dos próprios partidos burgueses em favor dos projetos de interesse da burguesia), mas assumir os projetos neo-liberais e privativistas do capital nacional e internacional (como as reformas previdenciária, trabalhista, sindical e o leilão da floresta amazônica aos grupos estrangeiros e a ocupação militar do Haiti). Nem vou falar do aluguel e reforma de imoveis de amigos, pagamentos de projetos absurdos a outros amigos, camarotes de festas populares só pra ricos e por ai vai...
Ser anti-petista é combater um governo que se elegeu defendendo hipocritamente os interesses dos trabalhadores e a utopia socialista e, além de se preparar para revogar os últimos direitos legais da peonada, vem mantendo o salário mínimo em valores de fome canina. E não revogou uma só das privatizações de empresas estatais realizadas nos governos direitistas que o antecederam (como a da Vale do Rio Doce), mas, bem diversamente da ideologia que pretendia representar, não tocou um só dedo nos privilégios do capital financeiro brasileiro e multinacional, não nacionalizou um único banco, mas antes protege a farta os lucros dos agiotas legalizados no Banco Central, que sugam o sangue do trabalho exaustivo da maioria, e faz questão de desviar para o pagamento da “dívida externa” os recursos que deveriam estar a serviço da massa da população. Além, é claro, de manter a reforma agrária real e efetiva no plano das intenções e dos assentamentos precários (como os demais governos burgueses), para tranquilidade dos latifundiários, e sequer pronunciar a palavra “reforma urbana”, para não irritar os grandes especuladores imobiliários.
Ser anti-petista é combater a demagogia totalitária de um grupo político que, uma vez no poder, converte as camadas miserabilizadas dos municípios e da nação ao subjugamento e dependência do pior assistencialismo eleitoreiro, digno de prefeitinho despreparado do extremo sul do país, através da doação (com recursos públicos que são nada mais que o resultado do suado trabalho da peonada) dos bolsas-família, e dos programas fome-zero da vida, para não ter de tocar nos privilégios da classe dominante e garantir ao povão emprego, salário, moradia, ensino e condições de trabalho dignos de gente.
Ser anti-petista é denunciar e detestar, com todas as forças, um regime que, sob o pretexto da conscientização e libertação do povo, mergulha os trabalhadores na ignorância “engajada”, que empurra boca abaixo dos pobres e miseráveis brasileiros uma visão e um discurso estereotipado da pretensa democracia “cidadã” e participativa e de um coletivismo moralista, abstrato e distante, que se concretizam nas manipulações e no curral político dos “orçamentos participativos” – em que a infiltração dos agentes do governo petista local e as clássicas manobras da mesa diretora da assembleia convertem tudo numa triste pantomima, onde os participantes aprovam o que é de interesse do grupo que detém o poder formal e ainda o apóiam, agradecidos.
Ser anti-petista é contestar a entrega do Brasil à mais reacionária regressão feudal, que, apelando para os instintos e condicionamentos seculares de obediência pura e simples, e subjugação voluntária da maioria do nosso povo aos governantes e “homens de bem” (as elites econômicas e políticas exploradoras, opressoras e privilegiadas de cada vilinha, dos municípios, das metrópoles e do país), enverniza o comportamento conformado da grande maioria de uma falsa defesa dos interesses dos trabalhadores, do “bem-estar” e da “harmonia social”, a fim de manter os privilégios das elites a salvo e impedir qualquer dissonância revolucionária no cenário político nacional.
Ser anti-petista é combater uma demagogia perigosa e fatal, uma manipulação requintada e estudada, digna dos mais envolventes vigaristas das igrejas fajutas da vida, e que, a custa dos mais caros direitos e interesses da liberdade e da dignidade humana (de viver, trabalhar, amar e criar numa sociedade justa, sem opressão ou miséria) alimenta o luxo sádico de altos milionários internacionais e seus capachos brasileiros mediante a massificação “socialisteira” e “popularesca” das nossas mentes. Uma lavagem cerebral que substitui a verdadeira revolução socialista, filha do questionamento livre e consciente, do destemor e da independência de ação e pensamento, do inconformismo, da irreverência e originalidade criativa, da espontaneidade e simplicidade emocional, pelo simulacro infeliz e cartilhesco do “fascismo vermelho”, pela pantomima inofensiva dos discursos e das “marchas” e “gritos” inóquos.
Ser anti-petista é, antes de tudo, contestar o pretenso esquerdismo do dito “Partido dos Trabalhadores” e trazer à tona a identidade entre os métodos e interesses políticos da turma do Inácio e os velhos fascistas da primeira metade do século passado, que, como o sanguinário ditador espanhol Francisco Franco, adotavam as cores socialistas em seus uniformes e bandeiras, se apropriavam dos rituais e formas de organização dos partidos marxistas, da sua cultura (no sentido antropológico) política e filosófica típica, para parir o rebanho dos auto-flageladores!
Para ser anti-petista, basta sua cidade ser governada por eles...