Fantasmas da economia conspiram contra Dilma

Em uma piada que corre pela Internet, o chefe, após receber 600 currículos, diz à secretaria para pegar os 30 de cima e jogar o resto fora. A ajudante pondera que isso seria injusto com a maioria dos candidatos, mas o executivo responde: "Quem não tem sorte nada consegue". A atual presidente Dilma Rousseff está mostrando muito mais firmeza do que Lula da Silva, mas o ex-presidente, há que se reconhecer, teve mais sorte. Em seu período, exceção feita à crise do fim de 2008 - bem conduzida pelo governo, há que se reconhecer - tudo correu bem e, agora, com Dilma, os problemas se multiplicam. Alguns se tornam fantasmas impossíveis de serem combatidos com eficácia.
Dilma acabou com o disse-me-disse entre ministros. Com Lula, talvez em razão da visão superficial do dirigente sobre todos os problemas, cada um bradava para um lado, tentando convencer o presidente. Dilma fez dos ministros assessores de elite e todos sabem que só ela fala e decide. No Itamaraty, acabou com brincadeiras, como a mediação do conflito secular do Oriente Médio, e inverteu as relações com Estados Unidos e Irã. Na economia, nota-se certa indefinição, mas gerada por problemas intrincados.
A inflação anual se aproxima de 7% ao ano, o que é um verdadeiro vulcão, para um país que sofreu com hiperinflação até o Plano Real. O índice dos aluguéis está perto de incríveis 11% - que já é fator desestabilizador para famílias. Mesmo sem aumento oficial, a gasolina teve forte alta nas bombas, devido à subida do álcool. Do mesmo modo que a confiança do brasileiro na política do etanol, o dólar despenca, gerando desindustrialização progressiva. Se mexer na política cambial - o que algum dia terá de ser feito - se colherá alta na inflação. E o déficit em transações correntes deve passar de US$ 60 bilhões.
A arrecadação federal continua a bater recordes, mas nem isso pode dar alívio à presidente Dilma. Com os juros em alta constante, o gasto com essa rubrica deverá superar R$ 200 bilhões este ano. Todo dinheiro a mais que cair nos cofres federais será consumido para o pagamento de juros. Se o dinheiro não for suficiente, Dilma terá de lançar mais papéis, pagar os crescentes juros da dívida interna. Ao cortar gastos de apenas R$ 50 bilhões, a presidente defrontou-se com forte oposição. Embora tenha apoio de 80% da Câmara e margem um pouco menor no Senado, Dilma tem de tocar as obras do PAC, pagar as despesas de Copa e Olimpíadas e vencer o desafio de não deixar a saúde piorar sem trazer de volta uma CPMF rejeitada por 71% dos brasileiros. São muitos fantasmas rondando o Planalto. 

S. Barreto Motta

 


PT CRITICA AÉCIO... MAS LULA POOODEEE... TOMAR TODAS.

Alguns a serviço do governo estão praticando seu esporte predileto, tentar transformar a oposição em culpada por qualquer coisa. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou seus oito anos de mandato bebendo e dirigindo o País e ninguém seu aliado achou que fosse inconveniente.
De fato, além de ser um péssimo exemplo para a juventude por causa do malefício do álcool, não consta que o então mandatário tenha prejudicado sua atuação no dia-a-dia por causa da caninha. Agora, jogam sobre o senador Aécio Neves um problema que está do lado de lá.
Aécio foi parado por uma blitz no Rio de Janeiro, no último fim de semana, e estava com a carteira de habilitação vencida. Teve a decência de entregar a CNH sem se valer da carteirada como é praticamente usual com o grupo que, para cada oportunidade, saca o cartão corporativo ou o crachá do Planalto.
Ao contrário, o senador chamou um motorista de táxi, que levou o carro até sua residência na própria capital carioca. Foi um erro, ficou ruim como exemplo para a juventude, mas longe da grita dos que estão acostumados à bebedeira federal.
Os agentes pediram a Aécio que fizesse o teste do bafômetro. Como milhares de brasileiros, ele usou seu direito constitucional de se recusar, até com um argumento menos legalista e mais prático. Não iria dirigir dali em diante, então, não precisaria provar que estava em condição de guiar o veículo. Para o trecho em que havia dirigido, nenhuma ocorrência.
Para o particular, existe a prerrogativa de não fazer prova contra si; para o político, a condenação acompanha o cargo, é culpado até que absolvição por magistrado diga o contrário.
A mesma cobrança nunca foi feita pela companheirada no caso do ex-presidente ou de qualquer outro político. Talvez porque 99% deles tenham motoristas ou devido, quem sabe, ao fato de Aécio ser de fato diferente. Além de ele mesmo guiar, houve outro componente: em nenhum momento tentou se safar da ocorrência.
Não ligou para o amigo Fulano na força policial ou o Beltrano no departamento de trânsito, enfim, essas artimanhas tão queridas à companheirada. Seu único chamado foi ao taxista.
Enfrentou seu erro, foi punido por ele e não se esquivou sequer da repercussão. Se fosse alguém do governo, seria protegido pela camarilha até aparecer em público culpando a oposição.
Onde está o escândalo? Se for no uso do etilômetro, o próprio Superior Tribunal de Justiça tem isentado inclusive aqueles que provocam acidentes. Aécio não fez vítimas, não passou sequer susto em alguém.
Mas o governo, via aliados principalmente na internet, quer comparar o caso com a defesa que o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira, fez do plantio e do consumo de maconha.

REFORMA POLÍTICA

Todo ano ímpar traz de volta um tema ao cenário nacional. Trata-se da necessidade alegada, embora pouco ou nada defendida, de reforma política. As razões são repetidas como ladainhas das lavadeiras à beira de rios assoreados.
Os partidos no Brasil são fracos, há um abuso do caciquismo político, o comportamento médio de representantes é paroquial, clientelista e patrimonialista e, para piorar, os governos de turno à frente da União deitam e rolam, destruindo oposições programáticas através do aliciamento de bases pouco ou nada orgânicas.
Não preciso dizer o quanto concordo com estas análises e as venho também repetindo aqui neste blog por anos a fio.
No momento a polêmica trata da possibilidade de financiamento público de campanha, sendo vetada a coleta de forma privada, não mais permitindo o angariar fundos através das pessoas jurídicas organizadas para as campanhas.
Outro fator de debate é a proposta de lista fechada, onde as legendas apresentam uma lista e com posições pré-estipuladas. Para ambas há contra argumentos.
A primeira é atacada por levar o eleitorado a bancar campanhas. Entendo este fato como já existente, porque quando a moeda é o voto e o produto é o político vendido como sabão em pó, o retorno para o “investidor” dá-se na forma de emendas e vantagens competitivas, asseguradas pelo eleito, para assegurar compras e gastos de governo.
Outra proposta muito criticada é o da lista partidária, podendo esta ser fixa ou variável. Na primeira modalidade, a convenção ou o órgão de direção do partido indica os candidatos segundo critérios que deveriam – em tese - ser os mais democráticos o possível.
Já na segunda modalidade, o eleitor pode mover a lista pré-pronta, dando prioridade na ordem segundo a sua preferência. Como no Brasil não temos voto distrital, essa medida pode ser benéfica.
Existem os riscos de afiançar o controle oligárquico de cúpulas, mas, por outro lado, essa medida pode barrar o candidato individual, que traz consigo seu capital político e os investidores, saltando à frente dos correligionários com anos de vida na interna.
Reconheço, preferia debater elementos de democracia direta, como plebiscitos (não oportunistas), referendos e formas intermediárias de consultas públicas. Financiamento público e voto em lista tem prós e contras, mas no entender deste analista, ainda com ressalvas, fortaleceria a vida dos partidos.
Na ausência do debate mais substantivo, estas duas medidas seriam razoáveis paliativos no curto prazo.

Bruno Lima Rocha - cientista político