SONHANDO COM A MORTE!!!

Caros leitores, Hoje eu tive um sonho, daqueles que desejamos continuar no outro dia, e que, quando acordamos, tentamos de todas as formas voltar a dormir, na esperança de dar continuidade às aventuras fictícias que o sonho nos proporcionou.
O incrível de tudo isso, é que sonhei que havia morrido... É isso mesmo, morrido, espantado?
Pois é... Eu também ficaria.
Mas vamos ao sonho, a final não é todos os dias que morremos. Descobri algumas coisas interessantes, que perturbavam meus pensamentos, em perguntas constantes, uma delas é que o inferno é apenas um mito, na verdade ele não existe, pelo menos na minha morte, ele se quer apareceu.

Cheguei ao entardecer na porta do céu, como toda a portaria, lá estava alguém pra me receber, um homem velho aparentemente uns 70 anos, cabelos brancos e um olhar amável, tipo olhar de vendedor de livros, simpático e convincente... Nada de chaves e são Pedro.
Perguntou meu nome, anotou em uma prancheta dourada, e me convidou a entrar, fez um gesto de siga-me... E serenamente fui acompanhado seus passos. Levou-me para um campo verde, tipo pampa primaveril, o horizonte era claro e de uma perfeição já mais vista antes, pediu-me que sentasse e que aguardasse por algum tempo.
Acomodei-me sobre a grama verde e fofa, como se terra não houvesse, apenas pasto nada mais. Percebi que ao longe, alguém se aproximava vagarosamente, aos poucos fui vendo que se tratava de um homem que carregava uma pasta preta e uma bola embaixo do braço, logo percebi que já havia visto aquele homem, mas devido a longa viajem, ainda estava um pouco confuso com tudo que estava ao meu redor.

O companheiro de céu sentou-se ao meu lado e perguntou:

-Você não é de Jaguarão?

-Sim, respondi! Sou.

Depois de alguns segundos, ao reconhecer o morador da minha mais nova morada, exclamei!

-E você, é o Mario, eu te conheço, lembro de você quando ficava peneirando a bola na praça do centro da cidade, você ainda usa uma meia de cada cor...

O homem deu uma longa gargalhada e com grande satisfação disse:

-Sim sou eu mesmo, estou aqui há bastante tempo, e outros da cidade estão por aqui.

Nessa hora, bateu-me uma curiosidade de perguntar por mais pessoas que já haviam morrido, mas me contive apenas em escutar o vidraceiro Mario.

Já sentado ao meu lado, ele começou a fazer algumas perguntas...

-E ai? Como está nossa cidade? Os castelhanos seguem invadindo em busca das nossas mercadorias?

Queria muito mentir, para não contrariar as belas lembranças que ele havia guardado da nossa cidade, mas lembrei que estava no céu e que mentir talvez não fosse permitido, talvez meu nariz crescesse ou coisa assim... Então fui direto as respostas tentando ser o mais sincero possível, ou melhor, Franco com o Franco, literalmente...

-Na verdade não recebemos mais os castelhanos, muitas coisas mudaram e agora somos nós que invadimos o Uruguai em busca de mercadorias...

-Como assim? Isso é impossível, não consigo ver minha Jaguarão, sem o formigueiro dos Hermanos pelas ruas e calçadas da Rua Uruguai, Barão do Rio Branco e beira da ponte.

-É eu sei, mas muitas coisas mudaram como te falei, agora existe um tal de Free Shopping, que atrai milhares de Brasileiros, e os preços são imbatíveis.

-Tudo bem, mas e a JH Santos, As Casas Buri, A Modesta, A Casa Brasil, O Mercado Mauá, O Oscar Perez, a Rádio Luz, o Super Jepsem, Moderna, Cooperativa de lãs, como estão as nossas lojas?

-Na verdade de todas que você falou só a Rádio Luz ainda permanece aberta, o resto não existe mais.

-Mas nem faz tanto tempo assim que sai de lá, e tudo estava em pleno funcionamento, eram meus clientes, eu trocava e colocava vidros pra todos.

-Sei, mas infelizmente, nossa fronteira passa por momentos difíceis.

-Tudo bem, às vezes algumas coisas mudam, aqui no céu também temos mudanças, mas e o nosso futebol? Esse não pode ter mudado nossos times, Olaria, Pindorama, Cruzeiro, o grande time de salão Navegantes, como estão?

-Mario, velho Mario... Se é que posso chamá-lo assim?

-Claro... Pode sim.

-Nosso futebol, também não é o mesmo, o campo do Olaria virou um bairro, o Navegante e o Cruzeiro nem se quer existem, e o Pindorama e o Florestal nem campo tem mais.

-Olha amigo, você sabe que no céu não é permitido mentiras, e não estou acreditando que tenha mudado tanto assim. Só falta você dizer que os Sem Terras invadiram Jaguarão!

-Tentaram meu amigo, mas como a coisa estava muito ruim, que resolveram deixar a cidade... Nem eles aguentaram. Sei que é difícil amigo Mario, mas estou falando a verdade.

-Bem vamos lá e os nossos bailes, como estão? Caixeiral, Salão da Kennedy, Salão do Pindorama, Dance Star, Suburbano.

-Fico sem jeito de te falar...

-Como Assim? Vai dizer que também não existem mais! Rsrsrs.

-No caso do Caixeiral, o prédio foi leiloado e o clube não existe mais, e os outros, só ficaram na saudade...

-Espera ai... Você esta falando sério? E aquele monte de gente que lotavam todos os clubes, onde dançam nos finais de semana?

-Sim, estou sim... E hoje, dois locais são suficientes para a cidade, e assim mesmo, só lota em inicio do mês.

-E a política, quem está no Governo da nossa cidade? O PDS, PFL ou PMDB?

-Nem um, nem outro quem está é o PT, o partido de esquerda, o do barbudo Lula, lembra? Ele agora também é o Presidente do Brasil.

-Meu amigo desculpa, mas agora vejo que você não é de Jaguarão, você deve ser de Nova Bréscia, cidade dos concursos de mentiras.

-Mas amigo não estou mentindo...

-Sei, eu também sou colorado desde criancinha... Adeus pra ti... Tenho mais o que fazer...

-Amigo Mario... Espera ai, com quem posso falar pra me acomodar por aqui?

-É só você mentir que veio do inferno, rsrs...

Que pena, antes de convence-lo eu acordei..

Renato Jaguarão.