A MORTE DO LIDER.

No século passado nasceu um dos políticos mais polêmicos de Jaguarão. Começou a destacar-se por seus discursos fortes e cobranças infindáveis. A cada reunião no legislativo, lá estava ele, tomado pela humildade que o caracterizava, pela surrada camisa vermelha que fazia questão de repetir varias vezes na semana. Seus alvos preferidos eram os vereadores dos partidos de direita e o saudoso Ex-prefeito, chamado muitas vezes de “coronel bombachudo” representante da casta mais abastada da cidade.

O político da camisa vermelha e da estrela eternizada na lapela não deu folga aos políticos tradicionais e ao prefeito tradicionalista. A cada sessão da câmara, um questionamento a mais, uma denuncia, várias cobranças.

Todo esse cenário aos poucos foi transformando o vereador que se orgulhava em externar que calçava as sandálias da humildade em um representante legitimo dos menos favorecidos, dos oprimidos, daqueles que já haviam perdido a esperança na revolução social.

Com discursos que ressuscitavam grandes nomes do socialismo, o vereador foi conquistando adeptos e descontentes, transformando seu pequeno partido da estrela em uma grande esperança e a vida de muitos políticos da cidade heróica em um verdadeiro pesadelo.

As audiências no legislativo eram praticamente pautadas pelos discursos fervorosos do homem simples que surgia da vila, com o propósito de mudar a história política da fronteira, que há muito estava sob o comando da direita conformista, elitista e por conseqüência dominante.

 O vereador tinha como principal fonte de estudos livros socialistas e comunistas. Trotsky, Lênin e Stálin eram seus exemplos de lideranças. Em suas doutrinas estavam os caminhos a serem seguidos em busca da salvação para as questões sociais da cidade, que aos poucos se via mergulhada no desemprego e na desigualdade.   
 
Vendendo o perfil de irrefutável conduta, sempre se mostrou detentor da ética e da moral, e pregava literalmente a crucificação como castigo aqueles que ousassem não deter tais virtudes. Quase o dono da verdade absoluta...

E assim, não tardou o vereador do povo chegar ao poder maior da cidade, liderando uma revolução com palavras, ganhou a confiança de muitos, manipulou com sapiência, os esclarecidos, os poucos esclarecidos e os que não tinham esclarecimento algum.


Forjou amizades e amores antes impossíveis, nomeou como seus advogados o próprio povo, aboliu a palavra prefeito, preferindo ser chamado simplesmente pelo nome ou, o oficio que deu inicio a sua vida ”Professor”

Logo a vitória... O reconhecimento estava ao seu prazer, e daqueles que acreditaram no triunfo, na igualdade, no sentido nobre dos contos do menino pobre, marginalizado, excluído, que chegara ao poder pela força que emana do povo.

Mas o tempo e a política são linhas tênues e se fundem no decorrer do processo, o dinamismo com que se transformam os líderes e as idéias é imperceptível. 


O ser humano, a política, e os discursos, são mutáveis. Principalmente para os que acreditam em contos, para os que se julgam minoria, para os que pregam o poder absoluto, unânime, eterno, e para os que acreditam que apenas palavras são suficientes para transformar o mundo.


O poder antes tão perseguido, não se transformou em algo sublime, a desigualdade não teve mais tanto interesse, nem as pessoas, nem os projetos, nem as vilas, nem mesmo a cidade.   

O vereador que tanto se orgulhava de calçar as sandálias da humildade, agora não era tão humilde assim, e percebeu tardiamente que deveria ser chamado de prefeito, que deveria rever conceitos, e que nem tudo era de todo errado como acreditava, nem tudo era diálogo. Mesmo contrariado descobriu que não poderia mudar o mundo somente com palavras e que gestos e ações lhe faltavam, pois nunca os teve.

A revolta e as inconformidades não tardaram, as cobranças, oposição, antes fundamento maior de sua luta, agora seus maiores problemas.

E o Povo? E os seguidores, que acreditam no salvador da pátria? Que acreditaram que era possível desenvolver a cidade sem pedir ajuda externa, sem buscar recursos, vivendo em um município onde apenas a arrecadação seria suficiente, como se fosse um país repleto de embargos, uma Cuba nem tão livre.


Não foi tudo como esperado. Não somos uma Cuba, nem temos essa vocação, somos sim capitalistas e vivemos em um mundo como tal.

O maior pecado do agora prefeito foi acreditar que não seriam necessário recursos, nem ser chamado de prefeito, nem desenvolvimento, nem cumprir as promessas...

Morre um engano, um líder que muitos acreditavam, mas não existiu. Outros devem nascer, mas saberão que na política nem tudo são contos, histórias, e que muitos sonhos são pura utopia!

Humildade é uma grande virtude, mas quando vem acompanhada da sabedoria...