Eleição no RS: Acordo de cavalheiros? Duvido.


Desculpem-me aqueles que acreditam que a política, sobretudo a brasileira, é feita a partir de acordos entre cavalheiros. Neste sentido, acreditar que é para valer o fato de o PT abrir mão de sua candidatura própria à prefeitura de Porto Alegre em favor do PDT, caso os trabalhistas apóiem Tarso Genro neste ano, é a mesma coisa que acreditar em contos de fadas que convencem somente as crianças.

Pois é. Esta notícia foi veiculada no jornal Zero Hora desta segunda-feira (4/1).

Suponhamos, por um segundo, que tal promessa convencesse os pedetistas e os mesmos concordassem em apoiar Tarso Genro. Tendo em vista o resultado do pleito, dois são os cenários possíveis. A partir dos mesmos, farei um exercício realista sobre a atitude do PT em 2012:

1º cenário: Tarso Genro vence a eleição.

2º cenário: Tarso Genro perde a eleição.

Considerando o primeiro cenário, a possibilidade de o PT abrir mão de sua candidatura própria à prefeitura de Porto Alegre para apoiar um nome do PDT é praticamente impossível, tendo em vista uma série de fatores.

Primeiramente, pois haverá aquele discurso de que o PT precisa manter sua identidade política e isto somente é possível, historicamente segundo os petistas, através de candidatura própria.

Tem sido assim em Porto Alegre desde que o PT é PT! Segundo, o PT é notoriamente mais forte do que o PDT na Capital e esta constatação lógica seria um argumento fundamental para os petistas não apoiarem uma candidatura trabalhista.

Um terceiro e importante aspecto diz respeito ao fato de que o vice de Fogaça, José Fortunati, provavelmente buscará a reeleição. Fortunati, como todos sabem, é um ex-petista que deixou o partido não sem grandes mágoas. E a recíproca é também verdadeira.

O quarto e último aspecto seria aquela pergunta óbvia que farão os petistas em 2012: como é que o partido, que detém o controle do governo do Estado, não apresentará candidatura própria na eleição da Capital?

Consideremos agora o segundo cenário, ou seja, aquele da derrota de Tarso Genro. Mesmo neste, aliás, principalmente neste cenário, o discurso da candidatura própria do PT em Porto Alegre se manteria intacto. Seria alimentado, contudo, por outros argumentos.

Primeiramente, o fato de Tarso perder a eleição faria com que o Partido construísse uma retórica de que o mesmo deveria se fortalecer novamente e uma vitória na Capital seria estratégica para tanto.

Segundo, pois o PT faria uma reavaliação da sua política de alianças e constataria que os trabalhistas não foram tão importantes assim e que, portanto, o PT mais perdeu do que ganhou com a chapa de 2010.

Terceiro, pois o candidato do PDT seria provavelmente Fortunati, ex-petista que “traiu” os ideais do partido e, assim, não merece o apoio do PT.

O que é importante nestes dois cenários apresentados não são necessariamente os argumentos em nome da candidatura própria do PT em 2012.

Acredito que todos eles são absolutamente lógicos e passíveis de serem defendidos por qualquer petista.

Para quem conhece o cenário político na Capital, o PT é muito mais partido do que o PDT. Isto é uma questão de lógica da política: o mais forte nunca, sob hipótese alguma, aceitaria entregar parte da sua força ao mais fraco!

O que realmente importa neste exercício que proponho é que o PT está prevendo uma eleição com pequena chance de vitória para Tarso Genro e está apostando desesperadamente numa estratégia que lhe dê mais condições de sucesso eleitoral.

Entretanto, promete ao PDT o que não pode cumprir e não pode cumprir, pois cumprir uma promessa como essa seria, segundo a linguagem coloquial, dar um tiro no próprio pé.

Daniel de Mendonça
Professor de Ciência Política


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