Denúncias de Marcos Valério: investigar ou arquivar?


Para o PT, vale a máxima de que a melhor defesa é o ataque.

Quando os escândalos que na última década assolam o País ameaçam atingir ou chegam ao entorno do todo-poderoso Lula, em uníssono a cantilena petista chama a oposição de golpista, o Judiciário de partidarizado e a imprensa de mídia de direita.

É o que se vê, se ouve e se lê, agora, com os episódios da Operação Porto Seguro e com o depoimento de Marcos Valério - considerado o operador do mensalão – à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Do presidente do PT, Rui Falcão, à presidente Dilma, tudo não passa de uma “tentativa desesperada” de destituir Lula da “imensa carga de respeito que o povo brasileiro lhe tem”. Para os petistas de cepa e proa, o deus-Lula está acima das leis e do bem e do mal. É inatingível, imaculado, não deve satisfações a ninguém.

No que diz respeito à Operação Porto Seguro, na visão destes, conjuminações e segredos de alcova devem ser abafados custe o que custar. O acúmulo de milhagens de tantas viagens às escondidas de Rosemary, a Rose (ou Rosa), então chefe de gabinete da presidência em São Paulo, no Aerolula, rendeu nomeações, tráfico de influência, pareceres que atenderam a interesses escusos, que ainda vão render muitos episódios dignos de contos do Decamerão de Bocaccio, revelando o quanto um simples abrir de pernas pode escancarar portas e o tanto que o poder é, de fato, afrodisíaco, com direito a filial mantida no bem-bom. Até cair em alguma Vara (judicial), o ‘affair’ Rosemary permanece sob o edredom do silêncio.

Quanto às novas acusações de Marcos Valério Fernandes de Souza em depoimento voluntário reproduzido pelo O Estado de São Paulo, algo precisa ser feito. Ele afirmou que Lula, dentro do Palácio do Planalto, deu o aval para os empréstimos junto aos bancos Rural e BMG, com que corruptores ativos pagaram os congressistas corruptíveis passivos.

Disse mais: em 2003 depositou R$ 100 mil na conta da empresa ‘Caso’, cujo proprietário é o ex-assessor presidencial Freud Godoy, para "gastos pessoais" de Lula. Já em 2005 a CPI dos Correios (lembra-se?) detectou tal depósito. A título de esclarecimento e refrescar de memória, Freud Godoy é o mesmo ‘carregador de malas’ do escândalo do aloprados.

Em depoimento substancioso de 3 horas e 13 páginas, o operador do mensalão declarou que é o PT quem paga os R$ 4 milhões cobrados pela banca de advogados que o defende. Gravíssimo: o atual presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o teria pessoalmente ameaçado de morte. Segundo ele, Lula e Palocci fizeram gestão com a Portugal Telecom visando transferência de recursos para o PT (ilegais obviamente). O agora prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, teria negociado as facilidades para o BMG nos empréstimos consignados. Em seara explosiva, relatou que o pecuarista José Carlos Bumlai foi quem conseguiu a grana para pagar Ronan Maria Pinto, que chantageava Lula no caso Celso Daniel. Marcos Valério envolveu o senador Humberto Costa, garantindo que ele também recebeu dinheiro do esquema. Não bastasse tudo isso, delatou que, a partir de 2003, dirigentes do Banco do Brasil passaram a exigir “pedágio” de 2% de todos os contratos das agências de publicidade que prestavam serviços para o banco. O montante arrecadado abastecia o caixa do PT.

Isto posto, todo esse acervo de denúncias oficialmente relatadas, podem ficar sem apuração? O tido e havido, pelo Supremo Tribunal Federal, como “operador do mensalão” assegura que no ato das declarações à PGR apresentou documentos a tudo provando e comprovando. Mas, conforme suas próprias palavras, “os procuradores não tocaram nos papéis que deixei lá”.

Que Marcos Valério sabe muito, ninguém duvida. E nem tudo que ele sabe veio à tona ainda. Por mais desacreditado que esteja após ser julgado e pegar mais de 40 anos de cadeia, resolveu abrir o bico em caráter oficial, o que enseja que alguma medida deve ser tomada por parte das autoridades judiciais.

O Brasil, ávido por ética, verdade e fim da corrupção, espera investigação a fundo, doa a quem doer. O PT, como não poderia deixar de ser, quer o arquivamento imediato e a preservação da imagem inatacável do soberano e inatingível mito Lula.

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