Um homem público ter uma amante é ou não assunto relevante?
Nos EUA, basta para liquidar uma carreira política, como estamos cansados de
saber. Foi um caso extraconjugal que derrubou o todo-poderoso da CIA e quase
herói nacional David Petraeus.
Desde quando estourou o mais recente escândalo da República,
todos os jornalistas que cobrem política e toda Brasília sabiam que Rosemary
Nóvoa Noronha tinha sido — se ainda é, não sei — amante de Lula. Assim define a
palavra o Dicionário Houaiss: “Amante é a pessoa que tem com outra relações
sexuais mais ou menos estáveis, mas não formalizadas pelo casamento; amásio,
amásia”.
Embora a relação fosse conhecida, a imprensa brasileira se
manteve longe do caso. Quando, no entanto, fica evidente que a pessoa em
questão se imiscui em assuntos da República em razão dessa proximidade e está
envolvida com a nomeação de um diretor de uma agência reguladora apontado pela
PF como chefe de quadrilha, aí o assunto deixa de ser “pessoal” para se tornar
uma questão de interesse público.
O caso, com todos os seus lances patéticos e sórdidos,
evidencia a gigantesca dificuldade que Lula sempre teve e tem de distinguir as
questões pessoais das de Estado. Como se considera uma espécie de demiurgo, de
ungido, de super-homem, não reconhece como legítimos os limites da ética, do
decoro e das leis.
Outro dia me enviaram um texto oriundo de um desses lixões
da Internet em que o sujeito me acusava de “insinuar”, de maneira que seria
espúria, uma relação amorosa entre Rose e Lula. Ohhh!!! Não só isso: ao
fazê-lo, eu estaria, imaginem vocês!, desrespeitando Marisa Letícia, a mulher
com quem o ex-presidente é casado. Como se vê, respeitoso era levar Rose nas
viagens a que a primeira-dama não ia e o contrário.
Mas isso é lá com eles. A Rose que interessa ao Brasil é a
que se meteu em algumas traficâncias em razão da intimidade que mantinha com “o
PR”. Lula foi o presidente legítimo do Brasil por oito anos. A sua legitimidade
para nos governar não lhe dava licença para essas lambanças. Segue trecho da
reportagem da Folha.
Volto para encerrar.
*
A influência exercida pela ex-chefe do escritório da
Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, no governo federal,
revelada em e-mails interceptados pela operação Porto Seguro, decorre da longa
relação de intimidade que ela manteve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Rose e Lula conheceram-se em 1993. Egressa do sindicato dos bancários,
ela se aproximou do petista como uma simples fã. O relacionamento dos dois
começou ali, a um ano da corrida presidencial de 1994.
À época, ela foi incorporada à equipe da campanha ao lado de
Clara Ant, hoje auxiliar pessoal do ex-presidente. Ficaria ali até se tornar
secretária de José Dirceu, no próprio partido. Marisa Letícia, a mulher do
ex-presidente, jamais escondeu que não gostava da assessora do marido. Em 2002,
Lula se tornou presidente. Em 2003, Rose foi lotada no braço do Palácio do
Planalto em São Paulo, como “assessora especial” do escritório regional da
Presidência na capital. Em 2006, por decisão do próprio Lula, foi promovida a
chefe do gabinete e passou a ocupar a sala que, na semana retrasada, foi alvo
de operação de busca e apreensão da Polícia Federal.
Sua tarefa era oficialmente “prestar, no âmbito de sua
atuação, apoio administrativo e operacional ao presidente da República,
ministros de Estado, secretários Especiais e membros do gabinete pessoal do
presidente da República na cidade de São Paulo”. Quando a então primeira-dama
Marisa Letícia não acompanhava o marido nas viagens internacionais, Rose
integrava a comitiva oficial. Segundo levantamento da Folha tendo como base o
“Diário Oficial”, Marisa não participou de nenhuma das viagens oficiais do
ex-presidente das quais Rosemary participou.
(…)
Procurado pela Folha, o porta-voz do Instituto Lula, José
Chrispiniano, afirmou que o ex-presidente Lula não faria comentários sobre
assuntos particulares.
Encerro
Como se vê, Lula considera Rosemary um “assunto particular”,
o que soa como confissão. Só que ela era chefe de gabinete do escritório da
Presidência em São Paulo. O Brasil pagava o salário do “assunto particular” do
Apedeuta. Ainda assim, ela poderia ter sido uma funcionária exemplar. Não
parece o caso…
É um modo de ver a República. O mesmo Lula que classifica a
chefe de gabinete da Presidência em São Paulo de “assunto particular” não
distingue a linha que separa o interesse público de seus impulsos privados.
PS – Não deixem que a sordidez da história contamine os
comentários. Há sempre o risco de se ultrapassar a linha do decoro em temas
assim. Façam o que Lula não fez.
Por Reinaldo Azevedo
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