Comboio de escândalos atropela Sarney e arrasta Petrobras



Prestes a se tornar alvo de uma CPI no Senado, a Petrobras está envolvida na mais recente denúncia contra o clã Sarney.A Fundação José Sarney, dedicada a preservar a memória de sua passagem pela Presidência da República, teria desviado recursos de um patrocínio da estatal. Desde que assumiu a presidência do Senado, em fevereiro, Sarney e a Casa que comanda são atingidos por sucessivos escândalos.Amais nova denúncia envolvendo José Sarney formou o amálgama que ressuscitou a CPI da Petrobras.
O desvio de dinheiro de patrocínios da estatal para empresas fantasmas vinculadas ao presidente do Senado acabou com a trégua para instalação da comissão que investigará as contas da companhia. As investigações terão início na terça-feira, com aval do governo depois que a oposição ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Mesmo acossado por uma malha de escândalos, Sarney tinha como trunfo a obstrução da CPI. Esse escudo lhe garantiu o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o enquadramento do PT, evitando seu afastamento da presidência do Senado. A denúncia de que empresas fantasmas ligadas à Fundação José Sarney teriam recebido R$ 500 mil desviados de recursos da Petrobras aumentou a pressão.
– Foi a gota d’água. Como Sarney explicaria a não instalação da CPI depois de aparecer como beneficiário de recursos da Petrobras? Ficaria muito ruim para ele – avalia Pedro Simon (PMDB).
No círculo de conselheiros de Sarney havia apenas uma dúvida. A instalação da CPI, cujo foco principal serão os contratos e patrocínios da estatal, criaria um novo palco de desgastes para o maranhense. Acabou pesando a avaliação de que uma omissão traria ainda mais prejuízos, diante de um consequente aumento no teor dos ataques da oposição. Tal receio se materializou em plenário. DEM e PSDB ameaçaram obstruir a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) enquanto a CPI não for instalada.
Sem a aprovação da LDO, o Congresso fica impedido de entrar em recesso. A jogada da oposição, portanto, inviabilizaria uma estratégia de Sarney para esvaziar as denúncias. Ele espera que a paralisação de 15 dias do Senado relegue a segundo plano a onda de suspeitas que recaem sobre suas atividades públicas e privadas. Após uma manhã de sucessivas conversas de bastidores, houve um conluio entre governo e oposição, com a anuência de Sarney. Cada um cedeu um pouco.
A LDO será aprovada, a CPI da Petrobras começa os trabalhos na próxima semana e a oposição devolverá ao governo a relatoria da CPI das ONGs, além de renunciar à intenção de instalar uma outra comissão de inquérito para investigar irregularidades no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ao final das negociações, o governo saiu lucrando. Como a base aliada terá 11 dos 14 votos na CPI da Petrobras, é praticamente impossível que haja uma devassa nas contas da estatal. Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) já anunciou que não abre mão de indicar os ocupantes dos principais cargos na CPI.
– O governo vai ficar com a relatoria e a presidência. Não há negociação com a oposição – adiantou Jucá.
O curioso no comportamento dos senadores foi a discrição mantida em plenário diante das novas denúncias contra Sarney.
À exceção do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), ninguém cobrou explicações sobre os desvios praticados na Fundação José Sarney. Resignado, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), chegou a cumprimentar o maranhense pela instalação da CPI da Petrobras.Cordão para isolar o presidente
Como sabe que não há riscos de ser sacrificado por seus colegas, Sarney se preocupou apenas em manter distância da imprensa. Seus assessores reforçaram o esquema de segurança para evitar a aproximação de jornalistas.
Para se deslocar do gabinete particular até a Presidência do Senado, Sarney se negou a percorrer os corredores da Casa. Preferiu descer à garagem e, de carro oficial, dar a volta no quarteirão para retornar ao prédio, protegido por um cordão de isolamento.

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