Discutindo Saúde

Sabendo dos números consideráveis de meninas gestantes em nosso município, esta semana nossa reportagem foi conversar com um Agente Comunitário de Saúde para falar sobre um tema que preocupa a todos os profissionais da área de saúde, que é a Gravidez na Adolescência.

O intuito de procurar um ACS se deu pelo fato de que os mesmos estão inseridos dentro das pequenas comunidades, denominadas como (micro-áreas), e os mesmos têm a incumbência de promover a orientação e prevenção sobre todos os temas relacionados a controle de “doenças”.

Para preservar a ética profissional do agente não divulgaremos seu nome nem sua micro-área, afinal de contas estaremos falando sobre pessoas que talvez não tenha o mesmo posicionamento do profissional.

Perguntamos ao ACS qual era sua visão sobre este assunto, sendo que somos sabedores dos seus esforços para controlar este tipo de situação?

O ACS respondeu que embora este seja um assunto bastante debatido entre nossa classe, ainda não conseguimos promover o controle desejado. Acreditamos que este é um tema que não pode ser visto apenas como controle de saúde, mas também como controle social. Nossas micro-áreas estão estrategicamente localizadas nos lugares de maior vulnerabilidade social e associamos este fato ao tema em debate. Às vezes em nossas ações somos mal interpretados como aqueles que induzem meninas e meninos a prática sexual, pois, estamos adiando um assunto que só era discutido com jovens entre dezesseis e dezoito anos e hoje iniciamos a discutir sexualidade com “crianças” a partir dos dez anos de idade. Mas, nossa função é prevenção e hoje o jovem inicia a vida sexual ativa com idades muito adiantadas, conforme nosso conceito. Lembro da surpresa de um médico quando solicitamos seu apoio para encaminhar meninas ao Planejamento Familiar, métodos contraceptivos oferecido nas UBS (unidades básicas de saúde). Quando o doutor visualizou o tamanho das meninas nos disse que “elas estavam em idade de brincar de boneca”. Nós também pensamos da mesma forma, porém, infelizmente não é assim que acontece. Dentre nossas orientações sempre enfatizamos os riscos futuros deste fato, pois além do peso da responsabilidade prematura ainda serão mulheres que muito cedo irão adquirir uma DST ou um caso mais sério como a perda de parte do seu órgão reprodutor ocasionado por feridas no colo uterino e outras.

Acredito que este fato tem solução, mas não pode ser tratado de maneira isolada como um caso de saúde e sim como um caso social, cultural e quem sabe até de mudança de conceitos. Neste caso se faz necessário um trabalho em rede com todos os órgãos preventivos naquilo que se refere ao conceito de saúde que é um bem estar físico e mental. Então, é chegada a hora do trabalho conjunto entre órgãos do governo e as famílias. Mas isso não pode ser considerado barganha para que os pais assumam suas responsabilidades e sim um compromisso de todos. Lembrei de um caso em que a menina queria engravidar para poder sair de casa, acreditando que a vida com o namorado seria melhor do a que levava em casa. Também teve outro caso que a gestação foi uma forma de assegurar o namorado. Anulando-se em seu potencial e acreditando que a solução esta no outro e não em si mesma. Embora sabendo que este não é um problema só de classe social, em nosso cotidiano ainda é um fator predominante.

Acredito que com a implantação do Programa ESF (estratégia de saúde da família), esta situação melhore, mas mesmo assim se faz necessário a participação de todos. Penso que não adianta correr atrás depois do acontecido. Pois, hoje o trabalho do ACS parece ser um cumpridor de metas ou coletor de dados. Quem sabe depois desta reportagem nós sejamos vistos como parte incluída no processo e não como a ponta que leva o problema já pronto e que muitas vezes não se chega à solução.

Para finalizar, chamo a atenção dos leitores que esta “epidemia” pode ter um fim e a vida destes jovens pode ter um final feliz, mas não com métodos paliativos. Os Agentes de Saúde tentam fazer a sua parte, mas para reduzir não só a gestação prematura, mas também DSTs, AIDS, a fácil inclusão as drogas e outras complicações contemporâneas na saúde dos jovens, se fazem necessário a participação de todos principalmente da família que não pode ser considerada como uma instituição falida.

“A educação não mudou, o que mudou foi à maneira de educar”.

Agente Comunitário de Saúde

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