Os limites das concessões da presidente Dilma Rousseff ao PT
acaba de mudar. Sem consultar nenhuma instância do partido, a presidente
resolveu cortar o mal pela raiz, e mandou demitir os indiciados pela Operação
Porto Seguro, da Polícia Federal, que desmantelou uma rede de corrupção em 6
órgãos federais e agências reguladoras. Dilma não perguntou o nome do padrinho,
nem esperou para ouvir os argumentos dos envolvidos. Sem temer pré-julgamento,
escolheu ficar bem longe dos investigados, retirando-os de imediato do governo.
Ocorre que os exonerados e afastados da vez são gente ligada
à ex-secretária de Lula e, por mais de uma década, funcionária direta de José
Dirceu, Rosemary Noronha. Dilma não perguntou, não telefono antes, nem
titubeou. No máximo ouviu o relato o ministro da Justiça sobre a operação. E
depois, as explicações do ministro da AGU, Ignácio Adams - que desconsiderou. A
gravidade do episódio é tamanha que vinte e quatro horas depois de tomar
conhecimento do caso, a presidente mandou afastar o número dois da AGU - mesmo
que Adams lhe dissesse que não acredita na culpa do subordinado.
O basta de Dilma faz lembrar o estilo Itamar Franco:
primeiro afasta, depois apura. O ex-presidente não poupava nem amigos próximos
de seu método cirúrgico. A Presidência da República não pode ser arranhada pela
proximidade com suspeitas tão graves. Era o que pensava Itamar, e,
aparentemente, é o que pensa Dilma.
A presidente cunhou uma frase que repete sempre que o caso é
de corrupção: "não tenho compromisso com o erro ou com o mal-feito".
É como se Dilma dissesse: "errou? assuma as consequências e não conte
comigo para aliviá-las". O recado é duro. Ainda mais quando envolve
pessoas tão próximas a dois expoentes de seu partido, ou indicadas por
afilhados destes. A postura é completamente diferente do padrão de Lula, que
relutava em demitir ou afastar e acabava por absorver o desgaste. Dilma não
fará assim. O PT pode até não gostar, mas é a nova ordem.
CHRISTINA LEMOS
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