Indiciada pela Polícia Federal por envolvimento em um
esquema de tráfico de influência e venda de pareceres técnicos no governo
federal, a ex-chefe de gabinete da Presidência em São PauloRosemary Nóvoa de
Noronha, a Rose, era presença constante nas comitivas presidenciais durante os
dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para se ter uma
ideia, ela conheceu, ao lado de Lula, 24 países entre os anos de 2003 e 2010. É
o que mostra levantamento da ONG Contas Abertas divulgado nesta terça-feira. A
partir de 2011, ano em que Dilma Rousseff assumiu a Presidência, Rose fez
apenas uma viagem com as despesas pegas pela União: a Brasília, em setembro deste
ano.
Foi justamente em uma das viagens ao lado de Lula que Rose
negociou com o ex-presidente a nomeação de sua filha, Mirelle, para um cargo na
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Tanto a viagem não oficializada
quanto a negociação do cargo para a filha estão registrados em e-mails
interceptados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, deflagrada na
sexta-feira. A operação derrubou Rosemary e Mirelle de seus cargos na
administração pública. A filhapediu exoneração nesta segunda-feira. Rosemary
foi demitida no sábado, depois de ser indiciada pelo seu envolvimento com os
irmãos Paulo e Rubens Vieira, presos provisoriamente e indiciados por utilizar
seus cargos de hierarquia elevada em agências reguladoras para fraudar
procedimentos e promover negócios escusos.
De acordo com o levantamento, o ano em que Rose viajou ao
maior número de localidades foi 2009. A ex-assessora esteve em missões oficiais
com o presidente ou o vice-presidente na Alemanha, Portugal, França,
Grã-Bretanha, Catar, El Salvador, Guatemala, Costa Rica, Paraguai, Ucrânia e
Venezuela. Nesse ano, Rosemary recebeu 13.300 reais em diárias.
Em 2008, viagens presidenciais levaram Rosemary a Gana,
Peru, Espanha, Portugal, El Salvador e Cuba: 9.500 reais foram pagos em diárias
nesse exercício. Já em 2010, os valores das diárias chegaram a 15.000 reais.
Apesar do montante, apenas sete países foram visitados: México, Cuba, El
Salvador, Rússia, Portugal, Moçambique e Coréia do Sul. Também está na lista da
“volta ao mundo” de Rose a Bélgica.
Rose usava o nome de Lula para fazer tráfico de influência,
indicam escutas telefônicas feitas pela PF durante a Operação Porto Seguro. A
investigação da PF começou há mais de um ano. Rosemary foi flagrada negociando
suborno em dinheiro e favores, como uma viagem de cruzeiro (que ela depois
reclamou não ser luxuoso o suficiente) e até uma cirurgia plástica. Na última
conversa dela gravada antes da deflagração da operação, a ex-assistente de Lula
pediu 650 000 reais pelos serviços prestados.
Segundo a investigação, o papel dela era fazer a ponte entre
empresas que queriam comprar pareceres fraudulentos de órgãos do governo e as
pessoas do governo que poderiam viabilizar a emissão dos documentos. Rosemary
foi nomeada por Lula para esse cargo em 2005 e, desde então, esteve muito
próxima ao petista. O fato de assessorar o ex-presidente fez com que ela
própria se tornasse uma pessoa politicamente articulada. Assim, foi capaz de
influir na nomeação de homens do alto escalão de agências do governo, como os
irmãos Paulo Rodrigues Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), e
Rubens Carlos Vieira, diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), ambos presos pela PF.
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